Pergunta:
Gostaria de saber que recursos expressivos estão presentes nas seguintes frases, retiradas da obra Vanessa vai à luta de Luísa Costa Gomes (texto dramático):
1) «Oh, pobre de ti... nem um par de jeans... nem uma camisolinha de caxemira... nem um par de sabrinas douradas...»
2) «Que fixe! [...] Obrigada Pai! Obrigada Mãe! Obrigada Rodrigo! Que bom dia de anos! Que grande festa!»
Eu penso que tanto na 1.ª como na 2.ª existe uma anáfora. Na 1.ª, a anáfora é relativa à repetição do vocábulo nem, e na 2.ª a anáfora deve-se à repetição do que.
No entanto, parece-me que na frase 1 podemos assumir que existe igualmente uma enumeração, neste caso, de peças de roupa que a personagem não tem para vestir. No caso da frase 2, não sei se existe mais algum recurso para além daquele que já referi previamente.
Por fim, gostaria de esclarecer uma dúvida: existe algum recurso expressivo denominado repetição e, se sim, como se distingue da anáfora?
Obrigada pela vossa atenção!
Fico a aguardar uma resposta!
Obrigada.
Resposta:
Nas frases apresentadas pela consulente estão presentes diferentes recursos expressivos.
No segmento transcrito em (1), identificamos a anáfora e a enumeração:
(1) «Oh, pobre de ti... nem um par de jeans... nem uma camisolinha de caxemira... nem um par de sabrinas douradas...»
Neste momento do texto, identificamos a anáfora da conjunção nem, em início de cada um dos elementos coordenados. Este recurso associa-se à enumeração dos bens a que, segunda a Fada Marina, a personagem Vanessa não tinha, o que a impediria de ir a uma festa. Estes dois recursos combinam-se, assim, para intensificar a intenção irónica relativamente a estereótipos ligados à infância e à educação das meninas.
No segmento textual transcrito em (2), identificamos a anáfora:
(2) «Que fixe! [...] Obrigada Pai! Obrigada Mãe! Obrigada Rodrigo! Que bom dia de anos! Que grande festa!»
A personagem recorre à anáfora da interjeição «Obrigada!» e de seguida do «que» exclamativo para intensificar o seu sentimento de alegria perante as prendas recebidas. Neste caso, não consideramos que esteja presente a enumeração porque não se apresentam elementos de um dado conjunto.
Por fim a repetição pode ser entendida como um recurso linguístico do qual se retira expressividade, mas não é propriamente uma figura de estilo. É antes um recurso da língua que está na base de algumas figuras estilísticas como a anáfora, por exemplo.
Disponha sempre!